“No mal também existe o bem.”
Acho que essa é a frase que resumiu uma conversa que tive essa semana com uma
pessoa, que apesar das muitas experiências de vida, não consegue distinguir o
outro lado da existência. Vivo naquele eterno dilema de saber o quanto as
coisas/pessoas possuem um valor em si mesmas, capazes de levar a cada um de nós
a realizarmos nossas ações não pelo que receberemos, mas pelo que realmente
devemos fazer enquanto seres humanos de caráter e com solidariedade.
Estávamos sentados, despretensiosamente,
um diante do outro numa tarde de domingo. Conversávamos sobre a vida, sobre
nossas formas de ver e ouvir os apelos do mundo e quais respostas damos a cada
uma delas. Não procurei ninguém para conversar, não busquei sentar naquele
banco e depois naquela cadeira de plástico, apenas estava sozinho, esperando as
horas passarem, atento ao movimento de quem pensa esconder os sentimentos
dentro de si mesmo, e não expressar pelas formas que o corpo grita, explode e
comunica. Ele se aproximou igual a alguém que há muito tempo gostaria de falar
da vida para o outro, nesse caso eu. E a bondade de Deus é grande comigo.
Escutar histórias e poder abrir as possibilidades para que esta história seja
transformada e readaptada não é minha obrigação, mas é minha forma de agir sem
perceber. Aprendi que acredito no ser humano, e que corro riscos por ele e, sem
perceber (também), me torno ingênuo.
Percebi que eu não tenho o menor
preconceito para com quem tem ideias diferentes das minhas e muito menos a quem
não consegue abrir novos arquivos cerebrais para depositar informações
inovadoras. Frases de efeito não têm nenhum tipo de função quando a vida te
possibilita ter duas respostas e você pode escolher entre uma ou outra. Nem
sempre uma cesta básica é a melhor forma de ajudar alguém, pois a procedência
de tal iguaria para um faminto poderá vir da morte de muitas pessoas. E nem
sempre, o bem seria realmente a melhor coisa a se fazer num momento em que se
tira a roupa de um agasalhado para vestir o outro que está com frio. Numa
conversa simples, despreocupada, eu vi que o mal pode muito bem vir vestido de
bem. Uma ovelha pode ser um lobo, e aquilo que achamos ser a luz, pode muito
bem ser aquilo que cegará os olhos de muitos. Parei para pensar na juventude de
um país que desmorona diante da incapacidade de pensar, da oportunidade de
olhar o lado ruim das coisas e conquistar a vida aplicando valor ao que recebeu
pelo suor do trabalho e da disposição em vencer.
Eu conheci muitas coisas da vida
em uma pequena conversa. Conheci na prática que o ser humano é o único que pode
fazer algo para si mesmo. Ninguém pode mudar o outro se ele não quiser
(acredito em Maturana nesse exato momento). E a grande revelação de minha vida
é entender pela experiência e não pela teoria, tudo que conquistamos de forma
fácil e sem compromisso passa a ter valor descartável. Somente temos apreço ao
que conquistamos de forma suada e muito bem investida. Hoje tudo é muito
rápido, muito fácil e muito acessível, por isso descartamos com facilidade,
também.
Dizemos sempre que o belo se
esconde por trás da fera, mas esquecemos que o contrário também acontece. Não
quero ter o tom pessimista, mas alguns jovens trocaram alguns valores. Escondem
a verdadeira alegria por trás das drogas, da bebida, do sexo desenfreado. Não se
encontram consigo mesmos, não partilham, não se aproximam, e acham que essa “individualidade”
é positiva.
O bem também está no mal? Não,
não está. Porque aquilo que é, não pode existir na ausência dele mesmo (SIM!
Estou filosofando). O bem não está no mal. O dinheiro das drogas vendidas a
pessoas com dependências químicas não pode ser motivo para dizer que há um lado
bom nesta guerra sem fim, oferecendo cestas básicas aos moradores
desfavorecidos nas favelas. Nem a morte de jovens e adolescentes envolvidos no
tráfico pode ser considerada uma coisa boa para dizermos: Ele sabia disso! Não
prestava mesmo! Fez bem em matá-lo! Pois a morte não tem nenhum motivo positivo
e a vida de quem quer que seja tem o mesmo valor universal: o Bem, o Belo, a Verdade.
Hoje acredito que o que é ruim não
possui consistência para sustentar-se, coerência para assumir-se e atitude para
permanecer agindo às claras. Nenhum mal justifica o bem e – que me desculpe os
Maquiavélicos – nenhum fim justifica os meios.
Apesar da conversar ter terminado
em zero a zero, acredito que o Bem prevalece ao mal em um quesito muito
prodigioso, ele leva a reflexão de que as coisas podem mudar e que nada poderá
ser igual, uma vez que o bem abre as portas da mente e do coração. “Refletir o
próprio pensamento” torna-se o primeiro passo para mudança, para acreditar que
as coisas serão melhores no futuro. E o Bem sempre será presença, conquista e paz
interior. Por isso que o mal não tem lugar nem vez para ocupar espaço já
preenchido e muito menos existir onde já há a existência plena e absoluta da
Vida.
Aloha.
Boas Ondas.