quinta-feira, 11 de abril de 2013

A vida e o rio...


              Naquele tempo, Jesus pregava em Betânia e uma mãe levou sua filha até ele e disse: “Mestre, minha filha sofreu abuso sexual e está grávida. O que devemos fazer? Tirar a criança ou deixar que ela nasça?”

Olhando para a mulher e, em seguida para a menina, disse: “Em uma floresta havia três rios que fortemente corriam para o mar. O primeiro, com o tempo e a ação do homem foi secando, secando e passou a ser um pequeno fio de água, que corria por entre as pedras, até que morreu”.
“O segundo rio foi parado. Fizeram uma imensa barreira. Ele não conseguia mais seguir seu curso natural, sua água ficou empossada e os peixes que nele viviam não tinham mais liberdade de nadar como antes. Ele perdeu o seu sentido. E da barreira para frente, já não havia plantas, animais e as pessoas não tinham o que beber, mas se a barreira fosse rompida, ele conseguiria chegar a seu destino mesmo com dificuldade e a vida voltaria a acontecer em suas margens.”
“E mais ainda o terceiro rio. Ele seguiu seu fluxo naturalmente. Os homens bebiam de sua água, assim também os animais. Plantas e pedras se encontram em suas margens. Sofria aos ataques do tempo, do homem e da natureza sobre si mesma, mas era forte o suficiente para suportar as dificuldades e seu destino era seguro e certo, o mar.”
Percebendo que a mulher e a criança não compreendiam o que dizia e ao mesmo tempo a multidão que, em silencio, o cercava, começou a explicar:
“Os rios são vidas em diversas formas. O primeiro rio é a vida que sua filha carrega e que poderá não chegar ao seu destino natural, não por força da natureza, mas por uma ação humana se acaso desejar retirar-lhe a criança de seu ventre. A partir de então, tudo se torna desolação e seca. A retirada de um rio implica em muitas outras conseqüências ao redor e não somente a falta de água.”
“O segundo rio poderá ser a vida da criança ao nascer. Ela tenderá a ser represada, contendo nela muitas coisas boas, como força, saúde, saciedade. Ao mesmo tempo em que contém muita vida por onde ainda não passou, porque ficou parada no seu caminho por conta dos fatos acontecidos. É preciso que se soltem as barreiras que não deixa levá-la a continuar o seu trajeto maior, que é o da plenitude. E onde estiver seco, à margem, dará lugar a outras vidas que virão até ela.”
“Toda vida é como o terceiro rio. Forte, com destino certo e cheio de vontade de encontrar-se com o mar. Não existe rio que deixe de fazer este trajeto de nascer e terminar em uma grande porção de água que o acolhe à medida que se junta a tantos outros rios com o mesmo desejo. Até o rio mais poluído ou aquele mais fraco que possa existir, até nesse último existe a esperança de chegar ao seu verdadeiro lugar. E se quisermos beber de águas puras e fortes, que protejamos os nossos rios.”
Continuou: “O Pai é igual ao mar. Acolhe a todos, mesmo que não consigam chegar até ele de forma natural. Mas em toda a vida há o desejo igual ao dos rios de lançar-se em águas salgadas.”
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Quem espera sempre alcança!



Aquele momento em que o mundo para! Nada se resolve e o cotidiano se transforma na mais dura realidade existente. A única coisa que nos resta é esperar pelo que virá! A descrição do acaso possui vários tipos de interpretações por diferentes filosofias, crenças, estilos de vida e pensamentos críticos. Uns acreditam em milagres, outros em força do Universo e outros e momento propício para tudo se encaixar e acontecer da forma natural das coisas, mas ninguém tira a razão de que é bom quando as surpresas acontecem em nossas vidas, sim, surpresas boas, nesse caso.

Uma expressão muito em voga na internet é a palavra “trollar”. Fazer com que uma pessoa seja totalmente enganada e passe por alguma situação vexatória, estranha, engraçada ou embaraçosa. Apesar de o termo ser muito bem utilizado em tantos lugares no espaço global dos computadores, a situação já existe muito tempo na vida cotidiana. Quem nunca usou a expressão a “a vida anda me trollando”, não sabe o que é querer algo e a coisa não acontecer.

Mas existe um segredo para deixar que as coisas aconteçam sempre e a todo momento, da maneira mais surpreendente possível: parar de exigir que elas se realizem no nosso tempo. O grande mistério da vida está em perceber que as coisas surgem aos poucos, com naturalidade. A ansiedade é uma grande arma contra a construção de algo duradouro e eficiente. Mas quando se aprende a deixar a vida seguir segundo a segundo, e a cada momento prezar pelo que realmente se vive, tudo vai se organizando conforme o planejado.

Querer que as coisas se antecipem é normal. Desejar que o tempo diminua a distância entre o pensar e o executar é a maneira mais rude que os seres humanos planejam a vida desde muito sempre. Mas saber a arte de administrar o momento certo para colher os frutos é sabedoria.

Da mesma maneira que lhe é entregue um novelo de lã todo embolado e você é obrigado a desfazê-lo com serenidade e paciência, pois poderá piorar a situação, também deve tratar a vida e suas demoras. O mundo para, as coisas não andam, a pessoa se percebe muito presa ao que não chegou. Sente com um novelo de lã que a situação te apresenta, serenamente, desenrole nó a nó, veja onde está o próximo passo. Garanto que com o tempo – pouco ou muito – as coisas irão desatando, nem que seja pela força da fé, da razão, do sentimento, da atenção, da caridade, da transformação... 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O Fabuloso palco das emoções...


Ninguém está livre de se sentir obrigado a fazer mais do que pode. Ninguém está liberto de um dia se encontrar diante da obrigação de se portar como alguém extremamente perfeito perante o outro. E ninguém está totalmente solto para declarar-se alguém que não sofre com a obrigação de se portar de maneira eficiente e tão rápida nesse mundo.
Já nascemos de maneira violenta. Somos tirados de um lugar quente, aconchegante, próximo até demais da pessoa que nos carrega para toda uma vida. Somos jogados em um mundo que nos cobra todos os dias uma presença, mesmo que não digamos nada, não façamos nada, nem movimentamos um fio de cabelo sequer. Basta existir para que tudo nos cobre, tudo nos impila, nos empurre, nos jogue para fazer alguma coisa (mesmo que estáticos). A vida já inicia numa profunda cobrança de ser algo para o que está fora de nós e não é "nós".
Começamos a reconhecer tudo como em um grande teatro. Temos vários personagens que vivemos, e não queremos viver, mas temos que viver, porque VIVER É VIVER UM PERSONAGEM A CADA DIA. Eu e você somos o filho, o pai, a mãe, o professor, o tio, o cliente, o irmão, o amigo, o fã, o ídolo, o paciente, o  médico, o... o... o...
Somos muitas coisas e nesse ato de vivermos tantas coisas todos os dias, acabamos de nos esquecer que somos pessoas. Temos que vestir personagens que desgastam a nossa vida, acabam com a nossa imagem interior, bagunçam a nossa realidade e passamos a pensar somente no papel que estamos vivendo, na peça que vamos encenar e na fala que temos que dizer. Não vivemos pelo prazer da arte que a VIDA nos proporciona.
Quem nunca se sentiu angustiado por ter que dar conta de algo que parece tão simples de realizar, mas que no fundo se tornou um peso, pois sabe da dificuldade que é ser somente aquele personagem? Quem nunca teve vontade de ficar na cama mais uns dias, pois encarar aquela platéia é muito difícil, eles cobram demais, exigem demais, querem coisas demais? E isso vai gerar expectativas de resposta, vai gerar sintomas de ansiedades, vai trazer para fora o monstro da busca pela aceitação, o inimigo do reflexo perfeito e a tradição de fazer tudo na mais perfeita ordem.
Mostrar esse quadro de possibilidades é tentar esclarecer as perguntas do início desse texto: a resposta para expectativas que fazemos de nós mesmos e dos outros. Temos aflições internas e externas. Internas, quando pensamos que não damos conta do serviço, mas sabemos que podemos dar conta, mas as respostas não batem com a realidade. Daí vemos os planos frustrados de tentar ser o que não somos. Não aceitamos a realidade que temos de nossas limitações. Na internet eu posso viajar o mundo inteiro sem sair de casa, posso comprar uma roupa belíssima na França sem sair de casa. Posso ver meus familiares quem estão no outro canto do país, sem sair de casa. Mas não consigo realizar tarefas fáceis do meu dia a dia. Que contradição para a nossa cabeça, para o nosso ser.
Externas, quando nos são passados tarefas para realizar, quando nos são dadas oportunidades de aproximação, quando nos é pedido algo para finalizar "esperando" que nossa capacidade ultrapasse a nossa realidade. E daí nos vemos sem respostas a dar, sem atitude a fazer. Apenas reparamos que não podemos tudo, novamente. Mas, como assim? Eu consigo obter respostas claras pelos emails, eu consigo tirar uma foto e mandar na hora para o perfil social, eu posso fazer isso. Mais uma vez, a realidade se confundi com a possibilidade de sucesso eterno.
Não conseguimos mais parar para apreciar o mar, o sol, as árvores, as estrelas (essa nunca mais, com o tanto de poluição), as crianças, as respostas das crianças, o olhar da criança, o jeito de ser das pessoas. Porque estamos completamente ligados a dar respostas certas, exatas, coerentes e reais.
A ansiedade, a dificuldade de parar, a contradição entre o interno e o externo, nada mais é que a busca por aquilo que não existe ainda. Isso gera dor, pânico, fobia, amargura e por fim, a morte do eu que nunca mais se encontra com o outro, só pelo fato de o outro não ser mais alguém, mas o outro passa a ser angústia. E vamos nós, seres humanos, com a angústia  dentro de nós e fora de nós.
Ninguém deve esperar pelo que não existe, mas você também não sabia que existia um mundo fora da barriga de sua mãe. Mas você aprendeu a lidar com isso. Aprendeu a lidar com o diferente, com o incompreensível, com o "novo-tudo-novo".
Não gere em você a dor de ser o que não é. Não! Erre mesmo! Diga que não suporta mais! Se quiser, mude de vida, de situação, de lugar! Mas não seja refém da própria angústia de ser perfeito. Pense nos erros que cometeu ao longo de sua vida. Reflita que as pessoas realmente importantes pra você não deixaram de estar com você, mesmo sendo imperfeito. Aja, pois tanta coisa com dificuldade aconteceu em sua vida, não vai ser uma mudança que fará você acabar com seus propósitos e força interior.
Talvez, o que você precise, realmente, é abrir o palco da própria vida e mostrar que o personagem principal tem uma apresentação única para o mundo inteiro assistir. E que não pode perder a oportunidade de ser reconhecido como alguém que passou pelo teatro da VIDA e deixou a lição magistral de que tudo vale a pena ser vivido, desde que reconheçamos que somos pequenos demais para dar respostas tão complexas de quem somente quer voltar para um lugar quente, aconhegante e calmo. Permita-se...

Aloha.
Boas Ondas.