Naquele
tempo, Jesus pregava em Betânia e uma mãe levou sua filha até ele e disse:
“Mestre, minha filha sofreu abuso sexual e está grávida. O que devemos fazer? Tirar
a criança ou deixar que ela nasça?”
Olhando para
a mulher e, em seguida para a menina, disse: “Em uma floresta havia três rios
que fortemente corriam para o mar. O primeiro, com o tempo e a ação do homem
foi secando, secando e passou a ser um pequeno fio de água, que corria por
entre as pedras, até que morreu”.
“O segundo
rio foi parado. Fizeram uma imensa barreira. Ele não conseguia mais seguir seu
curso natural, sua água ficou empossada e os peixes que nele viviam não tinham
mais liberdade de nadar como antes. Ele perdeu o seu sentido. E da barreira
para frente, já não havia plantas, animais e as pessoas não tinham o que beber,
mas se a barreira fosse rompida, ele conseguiria chegar a seu destino mesmo com
dificuldade e a vida voltaria a acontecer em suas margens.”
“E mais ainda
o terceiro rio. Ele seguiu seu fluxo naturalmente. Os homens bebiam de sua
água, assim também os animais. Plantas e pedras se encontram em suas margens.
Sofria aos ataques do tempo, do homem e da natureza sobre si mesma, mas era
forte o suficiente para suportar as dificuldades e seu destino era seguro e
certo, o mar.”
Percebendo
que a mulher e a criança não compreendiam o que dizia e ao mesmo tempo a
multidão que, em silencio, o cercava, começou a explicar:
“Os rios são
vidas em diversas formas. O primeiro rio é a vida que sua filha carrega e que
poderá não chegar ao seu destino natural, não por força da natureza, mas por
uma ação humana se acaso desejar retirar-lhe a criança de seu ventre. A partir
de então, tudo se torna desolação e seca. A retirada de um rio implica em
muitas outras conseqüências ao redor e não somente a falta de água.”
“O segundo
rio poderá ser a vida da criança ao nascer. Ela tenderá a ser represada,
contendo nela muitas coisas boas, como força, saúde, saciedade. Ao mesmo tempo em
que contém muita vida por onde ainda não passou, porque ficou parada no seu
caminho por conta dos fatos acontecidos. É preciso que se soltem as barreiras
que não deixa levá-la a continuar o seu trajeto maior, que é o da plenitude. E
onde estiver seco, à margem, dará lugar a outras vidas que virão até ela.”
“Toda vida é
como o terceiro rio. Forte, com destino certo e cheio de vontade de
encontrar-se com o mar. Não existe rio que deixe de fazer este trajeto de
nascer e terminar em uma grande porção de água que o acolhe à medida que se junta
a tantos outros rios com o mesmo desejo. Até o rio mais poluído ou aquele mais
fraco que possa existir, até nesse último existe a esperança de chegar ao seu
verdadeiro lugar. E se quisermos beber de águas puras e fortes, que protejamos
os nossos rios.”
Continuou: “O
Pai é igual ao mar. Acolhe a todos, mesmo que não consigam chegar até ele de
forma natural. Mas em toda a vida há o desejo igual ao dos rios de lançar-se em
águas salgadas.”
Quem tem ouvidos
para ouvir, ouça.